terça-feira, abril 3

Os trabalhadores de Sanitários Maracay continuam a luta pela estatização

Os trabalhadores de Sanitários Maracay continuam a luta pela estatização
Este conflito é emblemático para os trabalhadores venezuelanos, se perde, nunca mais os trabalhadores tentarão tomar uma empresa?, afirma José Villegas, director do sindicato em Maracay, um dos centros industriais mais importantes do país, vem se desenvolvendo desde 5 meses uma das lutas mais emblemáticas dos trabalhadores venezuelanos.sanitarios_maracay_v_p
Ali quase 600 trabalhadores ocuparam a empresa ante a "desaparecimento" dos patrões da família Pocaterra Branger, conspicuos representantes dos "Amos do Vale", e desde então estão produzindo com a gestão e controle deles mesmos, com o apoio e direcção irrestricta de seu sindicato e do Comité de Fábrica.
Este processo é um exemplo para todas as demais empresas recuperadas nos últimos anos pelos trabalhadores. É um emblema para Sideroca, Invetex, Inveval, Invepal, entre outras, bem como para todos os trabalhadores e trabalhadoras do país. É uma demonstração clara de que os trabalhadores sim podem dirigir uma empresa, que não precisam de patrões para o fazer, e tal como o fizeram os trabalhadores petroleiros durante o paro/sabotagem, tem capacidade de organizar a produção do país, e em conjunto, dirigir o destino económico e político do país.
É uma demonstração da superioridad do controle operário direto e democrático sobre as formas cooperativistas, tal como o atesta a crise das empresas que antes mencionamos, as quais se tiveram que organizar na Freteco, para tentar lhe dar resposta aos inumeráveis problemas pelos que atravessam.
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Em Sanitários Maracay, todas as decisões se tomam democraticamente em assembleia. A situação económica dos trabalhadores foi progressivamente melhorando. É uma experiência extraordinária visitar sua gigantesca planta, capaz de produzir para o mercado nacional e inclusive exportar, e ver como se transformaram as relações entre os trabalhadores desde o momento em que a começaram a controlar; como se organiza a produção, ou como funciona o restaurante. É uma escola de formação para uma sociedade diferente, para uma sociedade sem explotadores nem explorados, uma sociedade onde a produção de cada empresa não seja para o ganho voraz e individualista, senão para satisfazer as necessidades do conjunto da população.sanitarios_maracay_viii_p
O que suceda em Sanitários Maracay dependerá o futuro das empresas recuperadas e das lutas que estão por vir para os trabalhadores venezuelanos, bem como a luta pelo socialismo sem patrões, sem burócratas nem corruptos. No entanto, este conflito foi invisibilizado completamente. Um cerco mediático se coloca sobre ele, bem como uma total indiferença de parte do governo.
Conversámos com José Villegas, secretário de Organização do sindicato de Sanitários Maracay, que afirmou:
?Este conflito é emblemático para os trabalhadores venezuelanos, se se perde, nunca mais os trabalhadores tentarão tomar e controlar uma empresa?. Qual é a situação actual do conflito e da empresa? O governador do Estado, Didalco Bolívar, faz dois meses ofereceu-nos adquirir o Feldespato, a matéria prima para produzir a barbotina, que é a base para a elaboração das salas de baño, mas isso se voltou pura conversa e demagogia. A verdade é que não cumpriu com essa oferta. Diante isso, decidimos comprar, com o obtido através das vendas dos últimos meses, 360 toneladas da arcilla (Feldespato). A empresa que fornece este produto acedeu a nos a vender, apesar de que os Pocaterra têm uma dívida de 170 milhões de bolívares. Com este material podemos produzir por uns 4 meses mais, utilizando um 30% da capacidade instalada da empresa, o qual permitir-nos-ia aumentar de Bs. 60.000 a Bs. 200.000 o salário semanal dos trabalhadores, e manter as carteiras de comida que entregámos a cada trabalhador semanalmente, as quais estão entre Bs. 45.000 e Bs. 50.000.
Imaginem-se quanto poderiam ganhar os trabalhadores se tivéssemos os recursos para comprar mais matéria prima e pôr a produzir a empresa a toda sua capacidade. E qual é a atitude dos trabalhadores? Bom, posso-te dizer que apesar de todos os obstáculos e vicisitudes pelas que atravessámos durante estes cinco meses, os trabalhadores seguimos com uma moral muito alta. Convencidos de que nosso triunfo será também o dos colegas e compatriotas das outras empresas recuperadas ou cogestionadas, e que será um exemplo para todos os trabalhadores e trabalhadoras.
Uma demonstração de que os operários sim podemos dirigir uma empresa, e por que não, até o mesmo poder político do país. E este sentimento dos trabalhadores não é casual. Pela primeira vez após muitos anos trabalhando nesta empresa, somos nós mesmos quem decidimos tudo o que se faz na empresa; tudo se decide em assembleia, democraticamente.
Neste momento, junto ao Comité de Fábrica e o sindicato, estamos a organizar a produção com a matéria prima que adquirimos recentemente, bem como ações legais e informação às comunidades sobre nossa situação.
Como se tem evidenciado o que disseste sobre a "superioridad" do controle operário?
A diferença das empresas recuperadas e gestionadas através de cooperativas, nas que os sindicatos despareceram, nós mantivemos nossa organização sindical, que foi um apoio fundamental em empurrar junto ao Comité de Fábrica esta experiência. Por outra parte, não estamos cogestionando a empresa com o governo, somos os trabalhadores em assembleia quem dirigimos de maneira autónoma todo o processo productivo. Estes factos possibilitaram que os 510 trabalhadores que hoje tem a empresa, tenhamos podido passar de Bs. 10.000 semanal que ganhámos ao princípio, a ganhar Bs. 60.000, e que hoje nos estejamos a propor passar a ganhar Bs. 200.000, além da carteira de comida para cada trabalhador e do almoço que se serve no restaurante da empresa.
Teve algum tipo de pressão contra vocês?
Sim, nestes dias veio um suposto oficial de justiça um tribunal a nos dizer que o Banco Venezuela ia a demandar a Sanitários Maracay por uma dívida que têm os Pocaterra com esse banco multinacional por uns 2 milhões de dólares. Mas também tivemos pressões de empresas do Estado como Elecentro e Hidrocentro, por consumo de electricidade e água. Estes patrões foram tão irresponsaveis pois tinham dívidas com todo mundo, por exemplo, a Elecentro ainda lhe devem 160 milhões de bolívares.
Nós fizemos um acordo com essa empresa por dois meses mas já se venceu. Agora o Comité de Fábrica e o sindicato estão a discutir esta situação e depois submetê-lo-emos à consideração da assembleia de trabalhadores para adoptar uma posição em frente a este problema.
E o governo regional?
Bem, obrigado ... Após prometer-nos a matéria prima, mais nunca o governador Didalco Bolívar deu sinais de vida com respeito a Sanitários Maracay.
Que novas acções têm previstas?
De imediato estamos a preparar-nos para a convenção da UNT de Aragua, da qual faz parte nosso sindicato. Isto será entre o 12 e o 14 de abril. Ali, sem dúvida, discutiremos uma política de respaldo a nosso conflito de forma mais global, bem como manter e aprofundar o apoio de nossa central sindical, paralelamente à preparação das eleições para legitimar à coordenação da UNT no Estado, como parte da defesa da autonomia da central e da realização de eleições na UNT nacional. Depois, junto aos camaradas de Freteco, temos previsto realizar uma marcha a Caracas de todas as empresas tomadas e recuperadas pelos trabalhadores, até o Milco (Ministério do Trabalho), no próximo 24 de abril.
E o que propõem-lhe vocês ao governo nacional?
Bom garoto, nós lhe exigimos ao governo do presidente Chávez que não siga indiferente a nossa situação. Propusemos que de uma vekl por todas o governo expropie Sanitários Maracay sem indemnização. Enquanto isto não se concrete seguiremos na incerteza. Precisámos que o governo adquira a matéria prima para produzir a plena capacidade, o qual pode permitir criar mais empregos, e que ao mesmo tempo o que produzimos possa ser adquirido pelo governo para desenvolver um plano nacional de construção de moradias, escolas e hospitais. Não estamos de acordo com a cogestão nem com cooperativas, nosso modelo demonstrou que é o mais conveniente para os trabalhadores, e é o único que pode minimizar a burocratização e a corrupção. Queremos seguir controlando e gestionando a empresa através do Comité de Fábrica e o sindicato, e tomando todas as decisões democraticamente em assembleia. Como eu sempre digo, em Sanitários Maracay tomamos a decisão de avançar para o socialismo, e assim o estamos a fazer. Ainda que estamos conscientes que o socialismo não é uma somatoria individual de fábricas expropiadas, senão que tem que ser uma política nacional de expropiar a nível nacional aos bancos, as grandes empresas e as multinacionais, e as pôr a funcionar sob controle dos trabalhadores.

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